
PERDA DAS PESSOAS AMADAS.
MORTES PREMATURAS
Sansão, antigo membro da Sociedade Espírita de Paris - Paris, 1863
21 Quando a morte se faz presente nas vossas famílias, levando
sem critério os jovens antes dos velhos, dizeis muitas vezes: "Deus
não é justo, já que sacrifica aquele que é forte, e com um futuro pela
frente, para conservar aqueles que já viveram longos anos cheios de
decepções; leva aqueles que são úteis e deixa aqueles que não servem
mais para nada; parte o coração de uma mãe, privando-a da
inocente criatura que fazia toda a sua alegria".
Criaturas humanas, é nisto que tendes necessidade de vos elevar
acima do plano terreno da vida, para compreender que o bem
está muitas vezes onde se acredita ver o mal, a sábia previdência,
onde se acredita ver a cega fatalidade do destino! Por que medir a
justiça divina pelo valor da vossa? Podeis pensar que o Senhor dos
mundos queira, por um simples capricho, vos impor penas cruéis?
Nada se faz sem um objetivo inteligente e tudo o que acontece tem
sua razão de ser. Se meditásseis melhor o porquê das dores que vos
atingem, encontraríeis sempre a razão divina, razão regeneradora, e
vossos míseros interesses seriam uma consideração secundária que
desprezaríeis ao último plano.
Acreditai em mim, a morte é preferível, mesmo numa encarnação
de vinte anos, a essas desordens vergonhosas que desolam famílias honradas,
cortam o coração de uma mãe e fazem branquear os cabelos dos
pais, antes do tempo. A morte prematura é muitas vezes um grande
benefício que Deus dá àquele que se vai, e que se encontra assim poupado
das misérias da vida, ou das seduções que poderiam arrastá-lo à
sua perdição. Aquele que morre na flor da idade não é vítima da fatalidade;
é que Deus julga que não lhe é útil passar maior tempo na Terra.
É uma terrível desgraça, dizeis, que uma vida tão cheia de esperanças
seja cortada tão cedo! De quais esperanças quereis falar? Das
da Terra, onde aquele que se foi teria brilhado, trilhado seu caminho e
feito fortuna? Sempre essa visão estreita, que não consegue se elevar
acima da matéria! Acaso sabeis qual teria sido o destino dessa vida
tão cheia de esperanças, segundo pensais? Quem vos garante que
ela não poderia ter sido cheia de amarguras? Acaso considerais nulas
as esperanças da vida futura, preferindo as da vida passageira que
arrastais na Terra? Pensais, então, que vale mais ter uma posição
entre os homens do que entre os Espíritos bem-aventurados?
Alegrai-vos ao invés de vos lamentar quando Deus quiser retirar
um de seus filhos desse vale de misérias. Não há egoísmo em
desejar que ele permanecesse aí, para sofrer convosco? Essa dor
compreende-se entre aqueles que não têm fé e que vêem na morte
uma separação eterna; porém vós, espíritas, sabeis que a alma vive
melhor livre de seu envoltório corporal. Mães, sabeis que vossos filhos
bem-amados estão perto de vós; sim, estão bem perto; seus
corpos fluídicos vos rodeiam, seus pensamentos vos protegem, e a
lembrança que tendes deles os enche de felicidade; assim como também
vossas dores insensatas os perturbam, pois elas denotam uma
falta de fé e são uma revolta contra a vontade de Deus.
Vós que entendeis a vida espiritual, fazei vibrar as pulsações de
vosso coração em favor desses entes bem-amados, e, se pedirdes a
Deus que os abençoe, sentireis em vós aquelas consolações poderosas
que secam as lágrimas, aquela fé consoladora que vos mostrará
o futuro prometido pelo soberano Senhor.
SE FOSSE UM HOMEM DE BEM,
TERIA MORRIDO
Fénelon - Sens, 1861
22 Dizeis, muitas vezes, referindo-vos a um homem mau que
escapa de um perigo: Se fosse um homem de bem, teria morrido. Pois
bem, ao dizer isso podeis até estar com a verdade. Muitas vezes,
Deus dá efetivamente a um Espírito, ainda jovem nos caminhos do
progresso, uma prova mais longa do que a um bom, o qual poderá
receber, como recompensa de seu mérito, o favor de uma prova tão
curta quanto possível. De qualquer forma, quando dizeis: Se fosse um
homem de bem, teria morrido, estais cometendo uma ofensa.
Se um homem de bem morre e se o vizinho da casa ao lado é um
malvado, dizeis: Seria bem melhor que este se fosse. Acontece que
estais julgando erroneamente, pois aquele que parte acabou sua tarefa,
e aquele que fica talvez nem a tenha começado. Por que gostaríeis,
então, que o mau não tivesse tempo de terminá-la e que o outro ficasse
ligado à gleba terrena? Que diríeis de um prisioneiro que, tendo
cumprido o tempo da sua pena, permanecesse na prisão e fosse dada
a liberdade a um outro que não tivesse esse direito? Sabei, pois, que
a verdadeira liberdade está na libertação dos laços corporais, e, enquanto
estiverdes na Terra, estareis em cativeiro.
Habituai-vos a não julgar aquilo que não podeis compreender e
acreditai que Deus é justo em todas as coisas. Muitas vezes o que vos
parece um mal é um bem; mas vossas capacidades são tão limitadas
que o conjunto do grande todo escapa aos vossos rudes sentidos.
Esforçai-vos para deixar, pelo pensamento, vossa mesquinha visão,
e, à medida que vos elevardes, a importância da vida material diminuirá
aos vossos olhos e apenas vos parecerá um incidente, na duração
infinita de vossa existência espiritual, a única existência verdadeira.
OS TORMENTOS VOLUNTÁRIOS
Fénelon - Lyon, 1860
23 O homem está incessantemente à procura da felicidade que
lhe foge sem parar, pois a felicidade pura não existe na Terra. Entretanto,
apesar dos sofrimentos que formam o desfile inevitável desta
vida, ele poderia pelo menos desfrutar de uma felicidade relativa se
não condicionasse essa felicidade às coisas perecíveis e sujeitas às
mesmas contrariedades, ou seja, aos prazeres materiais, ao invés de
procurá-la nos prazeres da alma, que são uma antecipação dos prazeres
celestes imperecíveis. Ao invés de procurar a paz do coração,
única felicidade real aqui na Terra, é ávido por tudo aquilo que pode
agitá-lo e perturbá-lo e, coisa curiosa, parece criar propositadamente
tormentos que dependia só dele evitar.
Haverá maiores tormentos do que aqueles causados pela inveja
e pelo ciúme? Para o invejoso e o ciumento não há repouso: estão
sempre excitados pelo desejo, o que eles não têm e os outros possuem
causa-lhes insônia. O sucesso de seus rivais lhes dá vertigem; seu
único interesse é o de menosprezar os outros, toda a sua alegria está
em excitar, nos insensatos como eles, a ira do ciúme de que estão
possuídos. Pobres insensatos, de fato, nem sonham que talvez amanhã
será preciso deixar todas essas futilidades cuja cobiça envenena
suas vidas! Não é para eles que se aplicam estas palavras: Bem-aventurados
os aflitos, pois serão consolados, visto que suas preocupações
não têm recompensa no Céu.
De quantos tormentos, ao contrário, se poupa aquele que sabe se
contentar com o que tem, que vê sem inveja aquilo que não é seu, que
não procura parecer mais do que é. Ele está sempre rico, pois, se olha
abaixo de si, ao invés de olhar acima, verá sempre pessoas que têm
menos. É calmo, pois não cria necessidades ilusórias, e não é a calma,
em si mesma, uma felicidade em meio às tempestades da vida?
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